ISEC simula fogos florestais para proteger áreas industriais em risco

SIC Notícias

 - Data de Publicação 2020-08-08

 

Em Portugal 63% das áreas industriais têm elevado risco de incêndio por estarem localizadas junto à floresta, segundo um estudo do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra – ISEC (consultar lista em anexo). Para proteger fábricas vulneráveis de norte a sul do país, o ISEC desenvolveu um sistema de simulação de incêndios que permite identificar os principais fatores de risco dos edifícios fabris: proximidade das árvores e matos, a maioria das estruturas em metal, os revestimentos inflamáveis dos edifícios, a ausência de sistemas de pressurização para combate a incêndios e de sistemas de deteção e alarme com comunicação remota. 

“Conseguimos prever com rigor a evolução dos incêndios florestais nas zonas industriais e perceber a propagação do incêndio no interior dos polígonos, quantificando as ações térmicas em cada uma das construções”, afirma António Correia, investigador e docente do ISEC. “Como podemos determinar exatamente quais vão ser as reações e o comportamento do fogo nos diversos materiais que integram os edifícios, estamos em condições de propor a empresas, a associações empresariais ou a municípios, intervenções concretas nas suas áreas industriais em maior risco para minimizarem os danos caso um fogo lhes entre pelas fábricas este verão”.

O ISEC enviou esta semana a lista das áreas industriais em maior perigo no país, bem como a apresentação do seu sistema de identificação das fragilidades das fábricas de cada perímetro, para as entidades que podem promover as intervenções de defesa das respetivos zonas em cada concelho: Associação Nacional dos Municípios Portugueses – ANMP, Confederação Empresarial de Portugal – CIP, Secretaria de Estado da Descentralização e Administração Local (sob a tutela a ministra Alexandra Leitão) e Ministério da Administração Interna, que tutela os bombeiros e a Proteção Civil. “O Instituto Superior de Engenharia de Coimbra está disponível para, nos próximos meses, ir às áreas industriais fazer a identificação dos riscos e prescrever as medidas de emergência para os diminuir e, assim, proteger pessoas e bens em perigo”, afirma Mário Velindro, presidente do ISEC. “As entidades a que nos dirigimos representam autarquias e empresas, ou tutelam a Proteção Civil e os municípios: é seu dever apelar aos interessados para que recorram aos serviços do ISEC e, a seguir, realizem as intervenções necessárias”.
 

Apelo aos empresários, às câmaras e ao Governo para ajam 

As intervenções prescritas pelos investigadores do ISEC são de diversas ordens. Desde logo, a substituição de elementos metálicos ou o seu revestimento por materiais como o betão leve, que possui uma elevada inércia térmica, ou o gesso, que tem caraterísticas físico-químicas que conseguem retardar o aumento de temperatura, permitindo a absorção do calor do incêndio. A utilização de painéis de fibra cerâmica, de lã de rocha ou tintas intumescentes – que, quando submetidas a temperaturas elevadas, originam uma espuma carbonizada com alto desempenho isolante – são outras das opções recomendadas. 

“São intervenções que têm custos, mas que são relativamente simples de fazer: o problema é que as zonas industriais têm sido completamente esquecidas”, afirma António Correia. “Os empresários, as câmaras e o Governo deviam estar conscientes que, sempre que um incêndio entra numa zona industrial, estas áreas ficam completamente devastadas e levam consigo dezenas de empresas, destroem centenas de postos de trabalho e queimam milhões de euros do Produto Interno Bruto, com todos os problemas sociais associados”.

Os debates e discussões gerados todos os anos em torno dos incêndios florestais e o investimento realizado em novos meios de combate não são suficientes para fazer face ao problema. “Continua a faltar o essencial: planeamento organizado das ações conjuntas entre as várias entidades envolvidas, designadamente a ANEPC – Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, as autarquias locais e a GNR – Guarda Nacional Republicana”, afirma António Correia. “Tem que ser feita uma compartimentação mais adequada das florestas e uma ocupação mais correta do solo na interface florestal”.

O presidente do ISEC, Mário Velindro, afirma que as entidades decisoras têm que começar a considerar os resultados, conclusões e alternativas apresentadas pelas instituições de Ensino Superior, fruto da investigação científica que nelas se produz. “No âmbito da Engenharia Civil, o ISEC tem apostado muito no desenvolvimento de soluções que previnem fatores de risco de áreas industriais que, por estarem localizadas junto à floresta, estão em perigo de serem atingidas por incêndios: uma das nossas prioridades é colocar a engenharia ao serviço da economia e da sociedade”, conclui.